As cores

Amo. E desde sempre. 

Aprendi a gostar do preto. A cor do luto. Do velho. Da tristeza.

Tornou-se chique. Básico. Sem erro. Assim como os tons em cinza. 

Tolero cada vez mais os beges. Teoricamente, combinam com tudo. 

Assim como o branco.

Com o passar dos anos o preto se instalou e dominou meu armário. 

Outros tons neutros começaram a chegar também. 

As cores vibrantes viraram acessórios:

Bolsas, sapatos, lenços, colares, anéis, mantas, cachecóis …

Esta invasão de básicos dominou quase todos os espaços.

Logo eu que sempre fui dos vermelhos, pinks e verdes bandeiras.

Logo eu que via no bege, a falta de opinião.

No preto, a preguiça da escolha.

No cinza, o preto desbotado.

Lá de vez em quando, solto matizes.

Volto aos vermelhos. Ao impacto da cor.

Os extremos e os vermelhos cansam.

Busco o meio termo. Encontro e descanso.

Lá de vez em quando, solto os matizes.

Monstros e fantasmas se encontram.

DI na Casa da Cultura e CIC

A terceira e quarta edição da exposição Diálogos do Inconsciente aconteceu respectivamente, na Casa da Cultura, em Lajeado/RS, e no CIC, Florianópolis/SC.

A versão dos DI na Casa da Cultura de Lajeado, teve a participação da amiga Márcia Morais, com telas de realismo clássico. A exposição “Imagens do Tempo” teve por objetivo mostrar como o Expressionismo Abstrato compõe bem com o Realismo Clássico. Quem viu, adorou.

A quarta e última exposição, aconteceu no CIC (Centro Integrado de Cultura) em Florianópolis/SC e foi uma grata surpresa. Mesmo acontecendo em janeiro, período de férias, a visitação surpreendeu. O espaço cedido foi maravilhoso. E a disposição das telas, perfeita. Diferente de todas as outras exposições, nesta abri mão do coquetel de abertura. Uma decisão acertada.

Saturnada

Quando alguém tira a gente do sério, fica coisado mesmo.

Gente sem noção, sem vontade. Gente egoísta focada no próprio umbigo.

Surtei. Chorei. Choro até agora.

Quero distância desta incoerência.

Se não queria, era só falar.

E não enrolar, enrolar. Um velho mantra.

Deu. Não quero mais.

Petulância me irrita. O rei na barriga me empanzina.

Saturei. Pra Saturno eu vou.

Deveria ir e já estar lá.

A decepção, mais uma vez, tirou meu chão.

Saturno, me aguarde. Um dia eu vou.

Por enquanto,  às voltas com os Diálogos.

Do Inconsciente.

Making Off DI em Lajeado – RS

Quando liguei pra Claudine – do SESC – oferecendo levar a exposição Diálogos do Inconsciente pra Lajeado, não imaginei que em 37 dias estaria expondo no Shopping de Lajeado. Trazer pra cá os Diálogos do Inconsciente é tipo “Se Maomé não vai à montanha então a montanha vai à Maomé.” Mesmo pronta, a exposição exige ações do porte da mesma. As telas são grandes. A quantidade também (e isso que várias telas não viajaram pra Lajeado).

Decidi não pensar nestes detalhes e viver o momento. Fiquei felicíssima.

Lajeado me viu crescer e florescer como psicóloga e mulher independente. Foi onde vivi momentos inesquecíveis e fiz incontáveis amigos. Expor em Lajeado tem a ver com um projeto e processo pessoal e como disse minha amiga Jussara “O bom filho à casa torna! E quando retorna com uma obra grandiosa, a Terra o aplaude!” Palavras inspiradoras. Que assim seja!

Passado o momento feliz, hora de cair na realidade: definir quais telas levar; como transportar; burocracia … Apesar de noites mal dormidas, momentos de ansiedade, no final, sei que tudo se ajeita e acontece.

convite DI

E assim, no dia 22/02 iniciei os preparativos para a exposição: depois de definidas quais obras levar, hora de preparar “as meninas” (como chamo carinhosamente minhas telas) para o passeio, embrulhá-las em plástico bolha, acomodá-las na camionete (Obrigada maridão pela força!!!!), viajar 600Km a 80-100Km/h, chegar em Lajeado com 37o C, descarregar, recolher outras telas na casa da mãe e de Lajeado e integrá-las à exposição. Dia 25 é dia de preparar os totens/biombos e os cavaletes e pensar na apresentação.

 

E aí amanhece o dia 26, o grande dia. É hora dos ajustes finais. Posicionar os totens e cavaletes. Prender as telas maiores. Organizar o espaço para projeção de vídeos e o coquetel. A exposição está preparada.

 

 

Diálogos do Inconsciente – como tudo começou

Difícil acreditar que não houve programação nem para a pintura das telas, nem para a exposição Diálogos do Inconsciente. Aquele tipo de coisa que simplesmente acontece porque tem de acontecer.

Havia feito releituras de pintores famosos de 1996 à 2000 com professores, pinceis, técnicas e escolas. Abandonei os cursos porque não conseguia dar aquelas pinceladas marcantes e fenomenais. Era boa nos fundos, nos preenchimentos, uma ou outra sombra, algum reflexo. Meu tempo era escasso. A dedicação também. Fechei a maleta de tintas, limpei os pinceis, emoldurei as últimas telas. Me recolhi. Não queria mais aquela obrigação de mostrar um trabalho que não me satisfazia. Voltei aos crochês e ao bordado arraiolo. Me dediquei à família e à carreira. Brinquei com paisagismo e jardinagem. Fui ler e escrever. Viajei.

E um dia, passados 15 anos, renascia o desejo de trabalhar com as tintas. Encomendei uma tela. Grande até para meus padrões anteriores. Como dizia minha professora Anelise Dessoy, uma telinha era como um cocô de mosca na parede. Uma tela de 1,00 X 1,50 era outra coisa. Um espaço todinho meu. Pintei, lambuzei, repintei, colei, raspei, pintei de novo e de novo. Um trabalho de persistência e experimentação. O resultado agradou. “Mudança”, a tela da adega, reflete exatamente meu momento de vida.

Depois dela, vieram outras.

Durante quatro anos, uma ou duas vezes por ano, quando sentia aquela necessidade de pintar, encomendava telas, providenciava tintas, e, chegada a hora, forrava a garagem com lona plástica preta e organizava todo material. Abria uma garrafa de vinho e convidava Beethoven, Mozart, Schubert, Brahms e Strauss a dar ritmo e movimento. O incenso aceso me conduzia a um estado onírico de entrega total. As telas iam ficando prontas e eu as colocando nas paredes. Elas conversavam comigo e eu com elas.

Chegou o momento de apresentar o artigo científico para a conclusão da minha formação em Arteterapia. Depois de aventar sobre diversos temas, escrever sobre meu processo arteterapêutico, me pareceu o único tema possível. Nascia assim os Diálogos do Inconsciente. Meu artigo arte-científico ganhava contorno e forma com teoria, técnica e vivência pessoal. Nesse meio tempo, um amigo entendido em arte e nos trâmites para expor, descobriu minhas telas e agendou minha primeira exposição no Espaço Cultural BRDE, em Florianópolis, em 2018.

A partir daí a coisa ficou realmente séria. Expor minhas telas era me expor. Era expor meu inconsciente e meu processo terapêutico. Era arte. Era terapia também. Era Arteterapia pura.

Passado o susto, foquei na exposição: a finalização e acabamento das obras; a burocracia do espaço cultural; a contratação do coquetel e garçom; a curadoria e o projeto da exposição; o transporte e a montagem e o mais difícil de tudo: colocar preço nas obras. A terapia virou negócio.

Depois da primeira mostra, uma certeza: o inconsciente coletivo é bárbaro.

O meu, o teu e o nosso inconsciente se revelam entre cores e formas.

Os Diálogos do Inconsciente prometem uma conversa interessante.

Venha também.

Eu e Sinapses

Eu e a tela Sinapses (vendida em Florianópolis)

 

Making Off – Diálogos do Inconsciente

Contagem regressiva!

21731412_1707496069262087_1140253206231667512_oPra quem pensa que vida de artista é fácil!!!!

 

Haja trabalho e dedicação. Se além de criar, resolver estudar e entender teoricamente a criação, prepare-se e se surpreenda.

 

Por enquanto, apenas imagens e primeiras impressões.

http://www.bancadasulista.com/noticia/2845-mostra-dialogos-do-inconsciente-traz-expressionism/

https://ndonline.com.br/florianopolis/plural/artista-suzete-herrmann-abre-exposicao-dialogos-do-inconsciente-em-florianopolis

http://www.deolhonailha.com.br/florianopolis/noticias/mostra-gratuita-traz-expressionismo-abstrato-a-espaco-cultural.html

 

E, tudo recomeçou com Pollock

O pior do verão é o calor. O melhor, as promoções. E liquidações. Vinha namorando há tempo um livro de arte do pintor americano Jackson Pollock. Qualquer um seria meu suficiente. Em parte, por necessidade. Em parte, por capricho. Queria conhecer a história e a personalidade de Pollock. Queria encontrar uma relação entre a arte dele e a minha: meu tema de conclusão da Arterapia. Quando retomei a pintura, em 2013, sabia apenas que não frequentaria nem escola, nem professor, nem estudaria técnicas de pintura. De todas as artes e artesanatos que faço, a pintura é a arte que menos domino. O desenho, as cores, a luz, a sombra. Algo acontece, pois sempre, absolutamente sempre, perco a mão. Do período em que pintei em atelier de pintura, sinto-me uma fraude na maioria das telas. As pinceladas mais marcantes são das professoras que tentavam me ensinar a pintar. Nunca aprendi.

Mas, queria pintar.

Queria imprimir cor na minha história. Quando decidi pintar uma tela para a adega de casa, comecei carimbando a tela com o fundo molhado de vinho da garrafa + placas de madeira de caixas de vinho. Ficou feio, tenho de admitir. Ao olhar para a tela, a certeza de que aquele troço definitivamente não era para mim. A vontade era de jogar tudo no lixo. O que quer que eu fizesse com aquela tela detonada não mudaria o pior destino dela. Levei-a ao jardim. Era de tarde ainda, e o dia, ensolarado. Peguei restos de tintas acrílicas e fiz, sem-saber-sabendo-apenas-sentindo minha primeira drip painting. O resultado? Absolutamente a minha cara. Amei, minha família amou, os amigos também. A tela da adega abriu a porteira para muitas outras telas. Devo ter pintado umas 20 telas desde então.

tela-adega

Se domino a pintura hoje? Não, ainda não. Tenho, assim como Pollock teve, dúvidas quanto ao meu fazer pictórico. “Isto é uma pintura?” Teria sido o questionamento de Pollock a Lee Krasner, influente pintora expressionista abstrata da segunda metade do século XX.

Isto é uma pintura? Penso que sim. Minha pintura é uma deliciosa brincadeira com cores e tintas. O resultado me agrada e alegra. Não me sinto mais uma fraude, pois cada uma das 20 telas pintadas nestes últimos 3 anos, refletem exatamente quem sou.

Voltando ao verão e às promoções.

Junto com Pollock vieram mais 14 livros de literatura (entre escritores nacionais – tipo novos talentos – e estrangeiros). Todos, em promoção de 50 a 80 %. Se são literatura de primeira? Ainda vou saber. Depois eu conto.

livros

 

Pinte o 7 em 2017

Que tal “pollockar” em 2017? Você pode não acreditar, mas a técnica de Pollock, além de fácil, é extremamente terapêutica, exclusiva e colorida. Adoro os paineis que pollockei nestes últimos 3 anos. Eles dão vida aos ambientes. E, pelo que parece, todo mundo gosta.

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Mas antes de arregaçar as mangas que tal conhecer um pouco de Pollock?

Além do link acima (em vermelho) um pouco mais do pintor americano que abalou o mundo das artes. Pollock nasceu em 1912. Foi influenciado pela pintura em areia dos índios americanos e pelos pintores mexicanos de afrescos. Em 1936 pintou telas violentamente expressionistas. Inventou processos originais aplicando imensas telas contra a parede ou no chão. Em vez de usar pincel e paleta, praticava o dripping  passeando sobre a tela com latas furadas, de onde escorria tinta. Criador da Action Painting, Jackson Pollock encarnava a fúria de uma raça embriagada por grandes espaços e afetou não só artistas  jovens, mas toda uma geração de pintores contemporâneos, inclusive mais velhos. Pollock travou uma grande batalha contra o alcoolismo e a depressão. Alguns viam nele apenas um criador de peças caóticas e isentas de sentido – a Revista Time chegou a apelidá-lo de Jack, o Gotejador. Outros, aclamaram-no como o mais promissor e impressionante pintor da América. Morreu em 1956, aos 44 anos, num acidente de carro.

Voltando à ideia de “pollockar”.

Costumo forrar o piso da garagem com lona plástica preta e arregaço as mangas durante vários dias. Compro várias telas – em formato de painel, que dispensa moldura – e vários frascos e tons de tinta. Sabe como é: quando a inspiração chegar, melhor estar preparada. Porque se tiver de me arrumar, pegar e rodar de carro, comprar tintas, telas … by by inspiração.

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Tudo devidamente forrado … hora de soltar o corpo e a imaginação. Hora de se libertar e se entregar por inteiro.

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Depois de vários dias e várias camadas de pintura – essencial esperar que cada camada seque antes de aplicar nova camada de tinta – é hora de dar acabamento com pincel nas bordas do painel.

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Depois de tudo seco e finalizado é hora de assinar e continuar usufruindo a energia da própria arte.

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Que tal? Vamos “pollockar” em 2017?

 

Tinta e poesia

As pessoas sempre me perguntam o que são minhas telas. O que elas – as telas –  representam. Arte não se explica. Se sente. Digo que elas são o que a pessoa quer que sejam. Arte Moderna tem disso. Minha arte – nada mais é – do que um portal para meu inconsciente.

Espero sempre – que o inconsciente de quem ganha, compra ou admira as telas – sinta-se atiçado e reivindique expressão. Que transborde e aponte o que tem a dizer.

Preparei algumas telas para presentear no Natal. Algumas eram promessas antigas e precisavam ser cumpridas. Me tintei toda. Borbulhei inteira. Depois de prontas, admirei cada uma delas e pensei: o que cada uma teria a dizer?

Fuga

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Se pudesse eu fugiria,

fugiria das grades, dos pântanos, do branco espectral.

Me confundiria com o céu azul e o vermelho alegria,

me lançaria em golfadas

para a vida, para o mundo.

Se pudesse …

Cá estou.

Abismo Sideral

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O céu e o inferno se querem,

se buscam, se encontram.

Dançam no ritmo da Rumba, da Salsa. Lambada. Tango. Jamais uma Valsa.

Fazem gráficos. Tiram medidas. Avaliam-se.

Não importa o que conspira,

o que constela no vácuo, no espaço de pontos.

Estalactites, estalagmites.

A beleza do abismo. O encanto sideral.

Nana nenê

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“Nana nenê que a cuca vem pegar

Papai foi na roça, mamãe já vai chegar.”

Chegamos, os dois.

Sonhe com os anjos azuis, com o sol de amarelo.

Vibre com o vermelho e o laranja da vida.

A Sombra existe. Respeite-a.

Nana nenê.

Estaremos sempre com você.

Flowers

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Obra prima de Deus.

Fálicas e ginecológicas.

Flores. Flowers.

Um buquê.

Candelabros de Luz

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Queria me acertar

Pra lá me fui, pra cá me perdi.

Quem sabe mais uma camada.

Mais cores, mais amores.

Mais uma tentativa.

A perfeição que não existe.

A harmonia que insiste. Persiste.

Ficarei

  • – por ora –

perdida e deformada.

No pano de linho retangular,

tento, tento, tento, tento…

Retomo as tintas. Me jogo inteira.

Candelabros azuis surgem.

A luz me abraça.