Setting Terapêutico 1

Ando buscando palavras e reações para esta fase da Nova Psicologia. Tenho feito sessões online com pacientes amamentando, caminhando, andando de bicicleta, de carro, paciente ralhando com o filho, com o cachorro, outro cumprimentando conhecidos em meio à caminhada, à noite num banco qualquer de qualquer praça, meditando na areia da praia, enfim … qualquer lugar é lugar pra se reencontrar terapeuticamente.

Na última sessão, com o paciente pedalando ao entardecer, comecei a me sentir meio estranha. Aquele movimento todo me deixou meio tonta, meio pensando no que era aquilo. Pedi que voltássemos ao trivial básico do nosso setting: ele no escritório da casa dele, eu no meu consultório, na minha casa. Meu paciente não é mega ocupado. Meu paciente apenas não se sente tranquilo para conversar comigo, estando em casa. Seu receio é de que alguém ouça sobre o que falamos. Poderia dizer que ele é um paciente sem teto. Quantos outros existem por aí, desconfortáveis para lidar com seus sentimentos e conflitos dentro da própria casa? Minha agenda que o diga: se o futebol falhar, se a esposa chegar mais cedo do trabalho ou da aula de tênis, se as crianças não tiverem aula, se a reunião antecipar, enfim, vou ter de remarcar a sessão para outro horário compatível com a casa ou escritórios vazios dos meus pacientes.

Afinal, nem todos temos espaços adequados para este momento sagrado e essencial que é o ato terapêutico.

Afinal, nem todos podemos falar aberta e livremente sobre sentimentos e conflitos dentro da própria casa. Uma pena.

Quando o terapeuta se deprime – 1

Pode parecer um tema espinhoso. É e não é. Porque o terapeuta é gente como a gente. Passa por perrengues, perdas, decepções, se entristece, adoece. O terapeuta também se deprime. Consulta terapeuta, psiquiatra, médico, toma medicamento, faz tratamento. Assim como dentista tem cárie, médico tem câncer, advogado pode ser processado e por aí vai.

Já tive crises de depressão, ansiedade, angústia. Já fiz tratamento e acompanhamento médico/medicamentoso e psicológico. 

Quando fui surpreendida pela primeira crise – e lá se vão 20 anos – entendia o que estava acontecendo, mas não compreendia. 

Como? Pq eu?

Hoje, pressinto a nuvem negra se aproximando, a energia se esvaindo, a tristeza puxando a cadeira, o desânimo levantando pesos. Compreendo todo o processo e o aceito como ser humano. Imagino as causas, amaldiçôo meus hormônios, repenso a vida e os sentimentos. Procuro o fio da meada. É através da própria dor que entendo a dor do outro. Quando o terapeuta se deprime ele alcança a depressão do seu próprio paciente. Passa a entender o espanto, as dúvidas e questionamentos. 

Torna-se humano, demasiado humano, como diria Nietsche. Torna-se psicoterapeuta com P maiúsculo. Nem sempre a experiência nos torna melhores, mas a vivência, sim. 

Não tenha vergonha de reconhecer o processo que se inicia, que crava as garras, que escurece os dias e tira o colorido e a vivacidade de estar bem. Quanto antes você reconhecer quem está dando o ar da graça e souber nomeá-lo, melhor. 

Mas, jamais esqueça: tristeza não é depressão.

Busque ajuda profissional para conseguir distinguir uma da outra. Ficar triste faz parte de existir. 

Depressão é doença. Tem tratamento e cura.

Busque ajuda.

sou destas

sou daquelas xaropentas quanto ao toque, beijo, abraço.

aos próximos, muito. não tudo.

contenção e respeito.

aos distantes, estranhos e estrangeiros

um aperto de mão, um sorriso.

cada um no seu espaço 

físico e emocional.

a invasão agride. ameaça.

ultrapassa limites invisíveis

em estrutura de muralha.

sou daquelas enxeridas

que cai de boca, rasga, arranha, arranca,

mergulha fundo,

corta em pedaços, pica, amassa,

congela, atiça,

fica na cola, no cangote, no rastro,

não perdoa,

come pelas bordas,

mirando o centro, o núcleo,

o trauma.

o ponto de fixação.

me lambuzo e mastigo

sentimentos e emoções,

afetos e palavras,

conflitos e desajustes … 

a mais pura desarmonia.

sou assim.

perdoe-me e me dê licença para avançar

sempre e cada vez mais.

vivo disso

você na sua poltrona.

eu na minha.

nada de toques e salamaleques.

entre nós, um mundo.

O Universo do SELF. Do Eu.

Prazer. Sabes quem sou?

Novos tempos ou um novo lugar?

Desde que comecei a atender em Jurerê – Florianópolis/SC, tenho observado algumas mudanças significativas na forma como os atendimentos evoluem. Isso desde o primeiro paciente, entre 2016/17. Um ou outro se tornaram exceção.

Quando iniciei meus atendimentos presenciais, o maior desafio era criar uma clientela, ser conhecida e reconhecida. Não lembro mais quem foi meu primeiro paciente. Possivelmente porque ele veio apenas uma vez e nunca mais retornou nem o contato nem ao consultório. De lá para cá, com a chegada da COVID19 e o início dos atendimentos online, pouca coisa mudou.

Faz muito tempo que não trabalho mais com a ajuda de uma secretária. Bons tempos aqueles. Toda parte burocrática ficava com ela, enquanto eu apenas atendia e me preocupava com os conflitos e evolução dos meus pacientes. 

Hoje, desde o primeiro contato, tudo é combinado e acertado entre mim (a terapeuta) e o paciente: horários, valores, pagamentos, faltas, remarcação de horário, enfim, o dia a dia de um relacionamento profissional, onde o terapeuta planeja e organiza tudo o que acontece, ou não acontece, no consultório ou atendimento online. Com o passar dos anos, a experiência e a evolução tecnológica, tenho dado conta de atender a todas as demandas: minhas e dos meus pacientes. Assim penso eu.

Um dos motivos, possivelmente, tem a ver com a clientela reduzida, desde sempre. A questão não é marcar a primeira consulta. Pesquisas no Google batem recorde e contatos via Whatsapp, idem. A questão é o envolvimento e a permanência em atendimento por um longo período. Uma raridade.

Uma ou duas sessões. Um mês. E o paciente começa a desmarcar sessões até, finalmente, decidir que não precisa mais de atendimento. Ele se sente bem e seguirá em frente sozinho. Obrigada. Se precisar, volto a te procurar, ok?

Ok.

Todos os entendimentos psicanalíticos para o corte abrupto e a finalização do acompanhamento psicoterapêutico de forma tão precoce, num primeiro momento, abalaram minha confiança. Segui em frente, sempre analisando o que ocorria. 

Com o passar do tempo, e discutindo com colegas que atendem no mesmo bairro, percebi que elas sofriam do mesmo problema. A baixa adesão era uma característica local. Um ou outro permaneciam mais tempo: 6 meses, 1 ano. 2 anos. Meu recorde. A maioria era turista no consultório. Vinham como quem vinha por temporada. Ou seja, num balneário recheado de turistas e gente de fora que se apaixona por Floripa, em algum momento  desistem e vão embora. Abandonam casa, amigos, planos, empregos, sonhos e, a psicoterapia. Além desta categoria, outra muito comum é aquela de quem tem pressa e vem em busca de conselho, resultados e soluções imediatas. Senão, byby. Outros vem apagar o fogo, o incêndio de suas vidas. Sempre que a operação rescaldo falha, eles somem e voltam uma ou outra vez. Até sumirem de vista, definitivamente.

A ideia de continuidade e profundidade no atendimento psicoterápico, cada dia se distancia mais na realidade de hoje. 

Lembrei de um antigo livro de Zigmund Bauman – Amor Líquido (depois vieram o Sociedade Líquida, o Medo Líquido, e tantos outros Líquidos) e entendi que o processo que estamos vivendo, pouco tem a ver comigo ou com o formato da Psicoterapia. O que estamos vivendo é uma verdadeira e profunda revolução de costumes e valores, onde a profundidade das relações não combina com a superficialidade da sociedade fast food em que vivemos. 

A maioria das relações se tornaram líquidas, passageiras e superficiais. Inclusive a relação psicoterapêutica. Tudo precisa ser rápido e superficial. Tempo é dinheiro e relacionamentos são descartáveis. 

Como dizem, “A fila anda”.

Inclusive entre os psicoterapeutas. São poucos os pacientes que aguentam ouvir o que não querem, sem sumir a perder-se de vista (a realidade dói, machuca, assusta) em busca de outro veredicto, e assim, até chegar o dia em que as coisas são como são e ponto final. Vou constelar, seguir um guru, terapias alternativas, grupos de apoio do serviço público, etcetcetc.

Aquele trabalho árduo de associação livre, sonhos, sinais e insights talvez esteja irremediavelmente perdido no passado. 

Consola saber que existem alguns que ainda buscam o autoconhecimento e não soluções a jato. São raros, mas, habitam este Novo Mundo.

Como tudo nesta vida, para sobreviver é preciso se adaptar. E cada vez mais ouço sobre “pacotes de atendimento”. Tipo: leve 5 sessões pelo preço de quatro. A velha e boa Psicoterapia Breve (com mais ou menos 3 meses de duração e foco definido) precisa  se adequar num pacote promocional.

Tenho uma colega que trabalha assim. Dias atrás me disse que cobra antecipado por 5 sessões. É tempo suficiente pra quem quer de fato resolver suas questões.

OooooooKkkkkkkkkkk.

Será?

Pacientes e mídias sociais 1

Dias atrás me dei conta que perdi dois pacientes por postar material político no Instagram. Não sei como minhas mensagens foram parar lá. Além de usar pouco esta mídia, sei que vários pacientes meus a usam. Sinceramente, devo ter dado um tilt, ou, as mídias se espelharam em algum momento. Nada está flegado, então não faz sentido. O fato é que aconteceu. Quem comentou comigo foi minha nora, usuária assídua do Insta. Pelo menos entendi por que motivo os dois pacientes – de longa data e bem engajados no tratamento psicoterápico – abandonaram suas terapias. 

Pior é que eu sabia que este assunto chegaria ao consultório. Tinha até um discurso preparado. Espero que ambos voltem, e que, mesmo atrasada, eu possa lhes explicar meus motivos para minha posição, além de trabalhar uma série de questões como confiança, respeito à opinião alheia, preconceito, etcetcetc.

Política, religião e time de futebol são temas sensíveis para quem é profissional autônomo. Sempre evitei qualquer um destes temas e pouco me posicionei. Neutra, bege, não fede nem cheira. Esta era eu com relação a estes temas. 

Sou colorada e convivo bem com os gremistas. Piadas e congratulações povoam nosso relacionamento desde sempre. 

A mesma coisa com religião. Respeito todas e sempre me senti respeitada. A crença do outro é sagrada para mim.

Penso que são temas pacificados para a maioria das pessoas. Fanáticos existem e existirão sempre. 

A política é tema novo. Adormecido há anos, explodiu em 2018, e de lá para cá, não existe consenso nem meio termo. É guerra de informação, narrativas, enganos, mentiras, agressividade e muito desrespeito. De ambos os lados. 

Acredito que o tempo, respeito e o diálogo serão o antídoto para amenizar o mal estar, as intrigas e rompimentos que tem sido inevitáveis nestes últimos tempos.

Neste ambiente de polarização e sendo uma profissional autônoma vivo um grande dilema: mantenho postagens de política ou volto a me abster do discurso político brasileiro? Dia após dia vou amadurecendo meu posicionamento. 

Sou a favor da troca de ideias, projetos e visões de mundo. Política se aprende em casa no trato, combinações e acertos entre todos os membros da família: marido e mulher, pais e filhos, entre irmãos, etcetcetc. Entre amigos. No trabalho e em todos os espaços onde acontecem relacionamentos humanos a política está presente. Aliás, o que seria da política da boa vizinhança se assim não fosse?

Ando tanto com a perna direita quanto com a perna a esquerda. Sei que minha mão direita domina a esquerda. Não sou canhota.Minha mãe e minha filha são. Já meu olho direito sofre mais do que o esquerdo. Os graus elevados de astigmatismo, hipermetropia e estrabismo são essencialmente destros. Temos órgãos essenciais a esquerda e à direita: pulmões, rins. Membros, idem. Ninguém vive sem os dois lados: a esquerda e a direita.

Espero que os opostos se entendam e aprendam a conviver em harmonia. 

Atendimento online de casais

Já estava atendendo individual online, há pelo menos um ano, quando um casal de brasileiros, morando em Londres/Inglaterra entrou em contato para fazermos sessão de casal online. Eles haviam acabado de retornar à capital inglesa depois de passarem um mês na casa de familiares aqui em Jurerê. Haviam me encontrado pelo Google e decidiram entrar em contato quando estivessem prontos para iniciar um trabalho terapêutico.

Num primeiro momento, fiquei apreensiva. Nunca havia atendido casal no formato online. Mas, como o casal estava em Londres e eu no Brasil, era a única forma possível. Marcamos a sessão. A duração da psicoterapia foi breve, com reencaminhamentos para atendimentos individuais de cada um dos membros do casal. O mesmo, teria acontecido se o atendimento fosse presencial.  A psicodinâmica do casal exigia que cada um tivesse um espaço pessoal de atendimento. Desde então, outros casais toparam esta modalidade de atendimento com excelentes resultados. Costumo fazer um período diagnóstico, no qual uso duas ferramentas chaves: um questionário de avaliação e, sempre que possível, o genetograma familiar (o mapa familiar das duas famílias, em paralelo) de cada um dos cônjuges. Utilizo papel A3 e faço o mapa de cada família. O objetivo é perceber casais que tem o mesmo padrão de funcionamento do casal em atendimento. É muito interessante, impactante até, o casal perceber que está repetindo a história de outro casal da família de um/outro/ambos. Tendemos a reproduzir comportamentos e relações familiares (pais, avós, tios) por identificação. Mesmo na sessão online, faço este mapa. O cônjuge vai me apresentando sua família e vou montando o esquema(mapa) que depois é enviado a cada um dos cônjuges, via e-mail. O mesmo é feito com o questionário. Num primeiro momento, mando o questionário, que é respondido individualmente em casa, depois me é enviado via e-mail. Costumo imprimir uma cópia de cada questionário, para ter o material em mãos. As 19 perguntas do questionário retratam o histórico do casal e do conflito.  O importante é a troca de informações: o entendimento do universo de cada um, decepções, frustrações e expectativas. 

Depois a psicoterapia segue os moldes do atendimento individual online. Com os mesmos prós e contras multiplicados por 2. 

Apesar de gostar muito do atendimento online, enquanto paciente/terapeuta, percebo que a maioria dos pacientes ainda prefere o modelo presencial. Casais ainda mais. O que muitas vezes define a escolha da modalidade é a questão do horário. Tem de haver a sincronia entre a disponibilidade de horário do coworking, do terapeuta, do paciente A e do paciente B (os cônjuges). Um equação nem sempre fácil de resolver. Outro fator é a diferença de preço. No atendimento online, praticamente não existem custos. No atendimento presencial, além da taxa paga ao coworking, existe o gasto de combustível para chegar ao local do atendimento, estacionamento, etcetcetc, algo em torno de 25% do valor da sessão. Esta quantia, acaba sendo incorporada ao preço final do atendimento.

Atendimento individual online

Atendimento Online – Vc sabe como funciona?

Depois de quase 3 anos convivendo com os atendimentos psicoterápicos online, primeiro como paciente, depois como psicoterapeuta, penso ser interessante escrever sobre as reflexões e conclusões que a experiência me proporcionou.

Não é um texto técnico.

Aliás, não li nenhum texto ou livro sobre o assunto, e escrevo a partir da minha vivência e experiência. Acredito que muitos estudos serão escritos sobre o assunto. Enquanto isso, vou aprendendo com a prática. Escrever sobre o tema é abrir espaço para o debate e reflexão.

Atendo nas duas modalidades: presencial e online.

Como tudo na vida existem os prós e os contras para ambas as modalidades.

Foram mais de 30 anos atendendo presencialmente. Nunca atendi no divã. Gosto do olho no olho. O corpo, as expressões, posturas, ritmos, olhares, roupas, manias, FALAM. Muitas vezes gritam. Um psicólogo atento lê esses sinais, interpreta e os usa durante a psicoterapia. O setting terapêutico – que nada mais é do que como funciona a sessão, combinações e contrato terapêutico – é outro aspecto a ser trabalhado pelo psicólogo: faltas, atrasos, não pagamento, silêncios, desvios de tema, atos falhos, omissões, esquecimentos, choro, gargalhadas ajudam o profissional na percepção do comportamento do paciente. Como dizia uma antiga supervisora “90% de tudo que vc precisa saber sobre seu paciente acontecem na primeira sessão.”

Olho, intuição e atenção no modo extremo.

Corroboro com a opinião da minha supervisora. Mas, é obvio que quanto mais tempo vc atende alguém, mais detalhes vc terá para entender e ajudar seu paciente. As reações, mudanças de comportamento, utilização variada ou não dos mecanismos de defesa, fuga de temas, a quantidade de informação obtida na própria relação terapeuta/paciente, na relação transferência e contra-transferência são guias fundamentais para o sucesso ou fracasso de qualquer terapia.

Grande parte disso fica prejudicado no atendimento online. Prejudicado: não extinto.

Muito do enquadramento presencial é mantido, basta atenção e experiência. O mesmo que para o atendimento presencial. Às vezes, elefantes voam pela sessão e o psicoterapeuta não vê/percebe. Bom saber que, independente da percepção do psicoterapeuta, o paciente vai continuar trazendo os temas(elefantes) até serem percebidos e trabalhados.

A maior parte dos pacientes online usam o Whatsapp, Skipe ou Face Time como mídia para o atendimento. É prático e quase todo mundo tem. Diria que o Whatsapp é o mais usado. No pequeno enquadramento do visor do telefone, que é o meio mais usado pela maioria, vc vê apenas o rosto do paciente, e o paciente, o seu. Existe o Zoom e o Meeting; pouco usados. A maioria tem dificuldades com estes aplicativos/ ferramentas (inclusive eu). Acaba prevalecendo o que é mais prático e conhecido.

Por outro lado, nos atendimentos online, a gama de facilidades para acontecer o atendimento contrabalançam com as dificuldades: disponibilidade de horários é absurdamente maior; já atendi paciente às 6:30h, as 21:00h, no sábado de manhã, algo inimaginável no atendimento presencial, onde vc depende da disponibilidade da sala de atendimento, do horário da clínica, da possibilidade de deslocamento casa/consultório. No atendimento online, vc e seu paciente estão onde precisam estar: cada um na sua residência, conectados um ao outro via internet. Não há interferência do trânsito, não há perda de tempo buscando a roupa perfeita para a ocasião (cansei de atender arrumada apenas da cintura pra cima), não há gasto com sala de atendimento, estacionamento, variedade de roupas e calçados. Quando o paciente não comparece, vc pode colocar em dia qualquer afazer doméstico ou profissional (costumo mandar uma mensagem no dia do atendimento para relembrar o paciente do seu horário, procedimento muito comum entre médicos e outros profissionais de saúde). Em caso de falta, costumo mandar um recado, caso a sessão tenha sido confirmada, de que estou no aguardo do paciente até o final do horário agendado. Todos são avisados sobre o pagamento em tais casos, assim como acontece nos atendimentos presenciais.

Uma das maiores vantagens do atendimento online é a grande variedade de horários e locais disponíveis para atender. A única variável é o seu tempo e do seu paciente. Já atendi paciente sentado no próprio carro, no seu local de trabalho e até com o paciente fazendo sua caminhada diária. Pacientes naturais do Brasil, mas que moram no exterior, podem manter seus atendimentos sem problema algum.

Acredito que o ideal seria fazer um mix de sessões online com algumas presenciais. Atendo muitos pacientes assim. Em algum momento do atendimento online, a sugestão de que se faça uma sessão presencial, tem sido sempre muito bem vinda. Se bem que, dias atrás, dei alta para uma paciente em atendimento online, após dois anos. Nunca nos vimos presencialmente e avalio o resultado da psicoterapia dela como na média de todos os outros.

Importante ressaltar que esse é o universo das sessões online individuais.

Mas como funcionam as sessões de casal, criança ou adolescente?

Segue num próximo post.

Impressões sobre a evolução dos atendimentos psicoterapêuticos – do atendimento presencial ao atendimento online.

Tenho de admitir que, após muita relutância, hoje sou ferrenha defensora desta modalidade de atendimento psicoterapêutico.

Atualmente, 95% dos meus atendimentos acontecem via online.

Muito antes da COVID19, entre 2016/2017, formamos um grupo de psicólogas no Jurerê, em Florianópolis/SC, para onde havia me mudado no final de 2013. Encontrávamo-nos 1 ou 2 vezes por mês, para discutir as mais diversas questões. Ana foi a última integrante do grupo de cinco psicólogas de idades, cidades, tempo de formação e linhas de atuação diferentes. Em comum, vivermos todas a beira mar e o interesse de avivar o consultório num bairro badalado, onde crises e conflitos pareciam não existir. Os problemáticos iam ao centro se tratar. Queríamos criar um espaço terapêutico atento e disponível a toda comunidade, na própria comunidade.

Ana nos sacudiu com a modernidade da mídia na divulgação, no formato de cursos e atendimentos. Admito que fiquei chocada. Formada há mais de 30 anos, com inúmeras formações e especializações, uma vasta experiência clínica, o universo apresentado por Ana não tinha nada de romântico, nada de indicações, nada de projetos detalhados e encaminhamentos. Freud e Jung deveriam estar se remexendo na tumba com a forma moderna de entrar no mercado de trabalho, apresentar-se e representar-se. As expressões coworking, impulsionamentos no Facebook, reunião via zoom, página no Google, entre tantas novidades que, ou não registrei ou esqueci, só me mostraram o quão jurássica havia me tornado em muito pouco tempo. Uns 3 ou 4 anos. 

A conclusão: Ana era uma mercenária que só pensava em dinheiro e ser muito reconhecida num espaço de tempo recorde. Nada de 5 anos de muito trabalho, palestras, artigos e entrevistas, voluntariado até ser conhecida e ter uma agenda considerável.

O grupo estremeceu. Ana saiu do grupo. Não havia espaço para ela. 

Naquela época, Vanessa pagava o Doctoralia (uma espécie de Páginas Amarelas virtual), eu fazia projetos e encaminhava para escolas, Elaine ainda estava se encontrando entre Rondônia, coaching, psicologia e o casamento, e Angela queria montar grupos de Contoterapia. Todas providenciando cartões de apresentação e agendando com profissionais ligados a área para eventual parceria e encaminhamentos futuros. Me propus a escrever para o jornal do bairro. Angela participaria de atividades de Arteterapia no Open Shopping. Elaine nos falava sobre técnicas de coaching de emagrecimento. E a Psicologia? Ela não sabia exatamente por onde seguir, mas lia de tudo e fazia todo tipo de curso online que aparecia. Eu olhava com o rabo do olho, exausta com minha recém finalizada formação – Arteterapia – e a dúvida sobre novos cursos. Angela falava de Constelação Familiar. Elaine estava estudando, via online, Hipnoterapia. Céus, quanta heresia! Como alguém poderia trabalhar com uma técnica tão perigosa, tendo por base, um cursinho online? Constelação Familiar? Vanessa já havia constelado. O rabo do olho só aumentava. E céus, onde eu estava quando o mundo virou de pernas para o ar? 

As férias chegaram, o grupo relaxou e cada uma seguiu seu rumo. Sem prazo nem data para retornar. Todas percebemos que o Admirável Mundo Novo nos atingira em cheio. Havia uma única saída para todas nós. A adaptação. 

Ana não era uma mercenária. Era a portadora da notícia. A porta-voz do Novo Mundo.

Ao nos reencontrar, alguns meses após o final das férias, cada uma havia achado um jeito próprio de existir. Vanessa criou um coworking, onde todas atendemos por horário de atendimento; Angela criou o grupo das Lobas; Elaine se separou do marido, mudou e montou um consultório na Praia dos Ingleses. E eu? Eu me cadastrei no Google, como psicóloga em Jurerê, fiz alguns cursos online de escrita criativa, assisti algumas lives, podcasts e afins.

A procura por atendimento aumentou. A ferramenta de busca do Google é primordial para quem está recomeçando. Mas, me mantive fiel ao Setting Terapêutico: atendimento presencial com tudo que a Psicologia do final do século XX apregoava. 

Até chegar a COVID19. 

Na época, por questões pessoais, retornei ao RS e encaminhei meus 5 pacientes para minhas colegas. Foram sete meses de período sabático. Nesse meio tempo, 3 dos meus pacientes encaminhados, pediram para que eu os atendesse online. Eu mesma estava fazendo atendimento online, pois minha psicoterapeuta não estava atendendo presencial.

Ok,Ok,Ok.

Entrei em contato com o CRP-RS e me informei sobre as regras desta forma de atendimento. Busquei na internet. Me inspirei na minha própria psicoterapia. E aderi a esta forma de atendimento.

A conclusão: Amo de paixão e se puder, atendo 100% online. 

Quer saber como funciona? Vou comentar no próximo post.