Os russos chegaram

Lembro de um tempo em que eu escondia chocolates Lollo e Laka, Sparkies e jujubas nas prateleiras e potes da cozinha. Depois veio o tempo de esconder sapatos. Vieram as bolsas que precisavam combinar com os sapatos. Chegaram as roupas, que em excesso (segundo a opinião de alguns) precisavam aparecer aos poucos e eram sempre de liquidação ou promoção. Depois vieram as telas, os pinceis, as tintas, os papeis de scrap, pastilhas de vidro, acessórios, ferramentas. Encaixotados e engavetados, davam o ar da graça de quando em quando. Óbvio que minha conta bancária e meu cartão de crédito me delatavam sem compaixão. Agora, me vejo com uma lista enorme de indicações e promoções de livros. E assim, chegaram os russos. E qual escritor ou leitor resistiria a 40% de desconto direto da editora? É por isso que Tolstóis, Leskovs, Tchekhovs e Dostoiévskis estão devidamente acomodados e quietos na minha sacola da academia, do lado esquerdo da cama do quarto de visitas. Como vou lê-los aos poucos, no problem. Meu consolo é que tudo, de Lollos a Tolstóis, são 100% aproveitados. O problema são meus delatores que continuam implacáveis, e eu, que continuo gostando deste tipo de emoção.

Café com Face

Alegria combina com

Cor, calor, energia.

Também combina com

Café, livro e

Um bom dia.

Dia emburrado, nublado, chuvoso?

Lave a alma, tire a poeira dos olhos,

Faça careta e solte os navios

O dia vai sorrir.

Com qual dos três eu vou:

Pretinho básico, branquinho respingado

Ou clarinho aguado?

Os três estão de bom tamanho

Ou são exagero puro?

Exagere no dia, na vida….. Às vezes, pode.

Hoje está de bom tamanho?

Dia de faxina

Vontade de colocar um laço

Enfeitar e ganhar o mundo

Melhor faxinar a casa,

tirar a poeira, lavar a roupa, a louça

Colocar a vida em ordem….

Amanhã é outro dia.

Manhãs no Face

Adoro o ditado turco que diz

“O café deve ser

Preto como o inferno

Forte como a morte

E doce como o amor”.

Por que narguilês então,

Insisto em dizer que

O café deve ser preto como a morte?

Forte como o amor? Mas……. Inferno doce existe?

Já pensou na agenda de hoje?

E se pudesse fazer apenas o que tivesse vontade,

O que seria?

Ponha asas na imaginação e deixe-se levar

Basta papel e lápis.

Harry Potter esteve aí?

Junte magia, alegria,

Café e diversão.

Manhã de sol, céu azul,

A vida desfilando

A preguiça relaxando

A agenda apertando

Um bom dia a todos

Relaxado ou apertado

Que diferença faz?

Ansiedade não tem idade

Semana de apresentação de texto na oficina literária. Depois de ser tripudiada com “Lola”, passo uma semana tensa. Na quarta à noite coloco um ponto final na minha agitação. Encaminho o texto “Júlia” pra apreciação – via email –, imprimo minha cópia e de manhã cedinho, faço 15 xerox. A tarde passou como brisa. Na sexta acordo cedo e me preparo para o fogo cruzado: unhas vermelhas, cabelo escovado, roupa e calçado adequados: um scarpin de bico fino e salto alto. Frente ao temido, a segurança de uma bela armadura. Só esqueci um detalhe: vou de ônibus e metrô. Saio do apartamento, caminho as duas quadras até a parada, sentindo a panturrilha arder e uma microcâimbra no pé esquerdo (minha massagista diria que é o lado do coração, das emoções, e sim, minha base está sofrendo). Entro no primeiro ônibus. Sento. Me distraio. A morena apresenta “essa tranqueira” para alguém do fundo. No banco invertido, a cinco metros, vejo uma asiática mirando o pequeno espelho e retocando a sombra dos olhos, com o ônibus em movimento. Do outro lado, o rapaz de boca bonita, olhos grandes e olheiras maiores ainda, está atento ao trânsito lá fora. À minha volta, uma multidão de celulares e smartfones, mensagens e alôs. O ônibus continua andando e vejo, agoniada, a asiática passando rímel nos olhos. Lembro da tortura dos 7 cm de salto. Outra moça olha pra mim e vai descer na próxima parada. Retiro meus brincos e guardo-os disfarçadamente na bolsa. A asiática-nissei-sansei-nãosei terminou a  maquiagem e guardou rímel, batom, sombra e pó na necessárie. Em seu lugar surge “Cinquenta tons de cinza”. Agora entendi a maquiagem! Passo pela Rua Suzano, lembro da facada do Olegário: um salário mínimo e meio por quatro horas de salão. Lá fora o dia está ensolarado e ameno. Os carros e as motos deslizam. Nem parece sexta-feira em São Paulo. O trânsito está escorregadio. Desse jeito vou ser a primeira a chegar. Três passageiros já se alternaram no assento a meu lado. Localizo o prédio da Nove de Julho revestido com mosaico de tijolos. Entramos no túnel. Não consigo abrir a janela e está o calor do Saara dentro do ônibus. 9:10h. Vou ser a primeira a chegar. Só se torcer o pé com meu maldito lindo scarpin. Avisto a parada final em frente. Cinquenta tons de cinza continua concentrada e lindamente maquiada. Desço do ônibus e pego o metrô. No trajeto entre os dois, uso as escadas rolantes e me abstenho de fazer meu step semanal. Meu scarpin de 7 cm. Reparo nos pés que vem e vão em busca de outras desmioladas de salto alto. Localizo um salto roxo mais alto que o meu. Mais desmiolada que eu. 9:20h e ainda não inverteram as escadas rolantes. Todas sobem e tenho de mergulhar na estação, descendo lances de escadas. Toc toc toc toc. Na vinda, é Palmeiras-verde-liberdade. Na volta, é Corinthians-preto-morte. Associações me ajudam a não inverter as direções. Elas seguem minhas emoções. Chego junto com o trem. Espero a tropa sair e entro. Primeiro trem, primeiro vagão. Vagão de deficiente. Uma deficiente literária. Desce comigo um cego. Mais lento e acompanhado. Um dia poderia ser voluntária e ajudar cegos nas plataformas do metrô. Ele cutuca meus pés com sua bengala. Deixo que passe e siga. À minha volta, olhos me observam. Coloco meu óculos Jaqueline Onassis e saio em frente ao Terraço Itália. Deslizo flutuante com meu scrapin como um cisne indo pro abate. Cisnes vão pro abate? Acho que exagerei na armadura. Sinto-me observada. Paranóica. “Vigésimo sétimo andar?” A ascensorista só pode ter deduzido pra onde vou. Será que ela lembra de mim? Das outras sextas-feiras? Ou minha expressão indica meu destino final? Sou a primeira a chegar. Chegam outros, o entorno da mesa se completa e, já que comer o jiló é inevitável, me prontifico. Melhor acabar logo com ele e distribuo os 15 xerox. Alguém lê. Faço anotações ….jogar os clichês no lixo….. a pobreza literária está na boca do personagem …o narrador precisa sair do lugar comum … aumentar os pejorativos: preguiçosa, relaxada, perua, interesseira … aspas sujam graficamente … Minha colega dá um chilique. Um texto pedante? … narrador onisciente … discurso indireto livre … pule duas linhas quando mudar o focalizador, é um truque que dá certo. Entendeu? Tomo café, água, barrinha de cereal. Meu colega teve insônia. Os livros da Editora 34 chegam na próxima semana. Hora de fazer o caminho de volta. Metrô e ônibus. Não observo nada. A serenidade é branca e silenciosa. O jiló não foi tão amargo. Meus pés saem do transe e doem. Ansiedade não tem idade. Depois passa e dá a maior canseira. Me jogo no sofá e durmo. 15:00h.

Poema ou crônica?

Nem um, nem outro.

Meus poemas nascem em dias preguiçosos.

Quando conexões e palavras se dissipam,

A ideia refina, a essência abranda.

Nascem crônicas disfarçadas de poemas

Com lanças e setas,

Nada de nuances e perfumes.

Mesmo a poética do amor

Chega enviesada

Querendo mas não sabendo como.

Mas está lá.

Como ato,

Como atitude,

Como criação.

Crônica poética? Poema Narrativo?

Nenhum. Nenhoutro. Os dois.

Manhãs no Facebook

O dia poderia começar

Sempre

com uma manhã dos deuses:

o café ao gosto,

o sol absorvendo energia e meditação!

E o mundo?

Ah, este deveria ficar aguardando lá fora…..

Quando chegar a hora, vá.

Café com rosquinha

Torrada ou pretinha?

Com canelinha?

Quem se importa.

Café com rosquinha

Tanto faz se torradinha,

Pretinha ou canelinha.

Preparado para a festa

De todas as manhãs

E só sentar e se deleitar.

Café com bolo.

Saboroso. Caloroso. Primoroso.

Alguém acompanha?

Manhã atropelada pela noite

O dia lá fora convida

A vida é isso:

Atropelos e convites

Ato falho virtual

Depois de descobrir que posso agendar meus posts, minha vida de blogueira deu um salto. Era comum eu passar dias sem postar, esquecer qual texto estava pronto pra publicar, qual imagem usar, em qual categoria criar, ou, postar tudo de uma vez. Verdade é que ainda hoje é assim. Tem dias em que me inspiro e crio vários posts. Pode ser o dia todo, algumas horas, fotos, imagens, poemas, crônicas, rascunhos grosseiros de ideias brilhantes. Nestes dias, abro a aba Postagem Bysuzete, vou agendando e postando ideias e produções. Ou criando rascunhos (devidamente registrados). Sementes e frutos maduros começam a ganhar forma nas visualizações constantes nos dias que se seguem. Cada post é revisado – é impressionante como a gente erra nas minúcias, combina errado, esquece, repete e come letras – …. enfim, é preciso corrigir. Nestas correções, muitas vezes decido excluir fotos, imagens ou vídeos. Concluo que o post ficará de pé sem esses excessos ou complementos, considerados então, desnecessários. Mas é comum e ainda não descobri porque (aliás os porquês: sempre erro nos por que, porquê ou porque) imagens deletadas e excluídas aparecem no Facebook. Ou seja, no link do meu Face aparecem imagens que não necessariamente estão no post do meu blog. Foram consideradas demais, e por isso, cortadas. Só estou explicando o que tem acontecido com algumas imagens desconexas e perdidas entre o Face e o WordPress. Sim, originalmente elas estiveram lá. Um esconde, o outro mostra. Ato falho, lapso freudiano ou parapráxis do mundo virtual? Um mero problema de BIOS, óbvio.

Arte impactante

Fui caminhar no Ibirapuera e aproveitei pra ver a exposição da artista plástica Adriana Varejão, no Museu de Arte Moderna – MAM. O que posso dizer? Estou impactada. É o que a Arte Moderna faz comigo, ainda mais quando vejo entranhas, incisões e extirpações que embrulham meu estômago. Sei que é tudo de mentirinha. Sei que é arte. Mesmo assim, minha sensibilidade sofre e fico atormentada.

Senti algo parecido quando vi as obras do Iberê Camargo e Frida Khalo. Aliás, há algo de Frida em Adriana. Impressiona a coragem, a audácia e a inventividade humana ao misturar conceitos, técnicas, materiais e criar arte. A obra de Adriana Varejão ainda vai reverberar algum tempo, assim como Lolita, de Vladimir Nabokov, continua dando socos na boca do meu estômago.

Mas arte que se preze tem que ser assim: única e impactante. E certamente, Vladimir Nabokov e Adriana Varejão conseguem esta unanimidade. Prefiro as cores alegres e o inesperado das linhas de Miró, Matisse, Picasso. Andiamos às margens de Adriana Varejão. Acima, “Azulejaria Verde em Carne Viva”.

Linha Equinocial, de 1993

Este óleo sobre tela, porcelana e fios de poliamida é de 1993 e chama-se “Linha Equinocial”.

“Milagre dos Peixes”, de 1991. Óleo e gesso sobre tela.

“Azulejaria de Cozinha com Caças Variadas”. Obra de 1995.

“Tea and Tiles II”. De 1997. Delicado e intrigante. Um scrap de parede.

Nada como a suavidade e o frescor do mar.

Porque “Ruína do Charque Santa Cruz”? Eca, entranhas.

“Extirpação do Mal”.

O Mal jaz na maca.

Apenas uma “Língua com padrão sinuoso”.

“Carnívoras”. Será que anotei o nome certo? Porque será?

“Wall”. Telas sobrepostas de 2001.

Um “Prato com mariscos”! Enorme.

Outro prato enorme. A exposição tem no total 41 obras. Que as outras sejam surpresa. Impactado (a)? Que bom. Arte é isso. Coloco no fim o que inicia a exposição. Belíssimas Palavras.

Arte, pintura, texturas, palavras, literatura, corpo. Abstrações. Tudo e todos interligados e entrelaçados.

Quando eu conseguir

Segunda-feira, 10 horas da manhã. “Susi, vamos à OCA ver a exposição do Vaticano?” Quando?” “Hoje à tarde?” “Vamos. Mas, você tem certeza de que está aberto hoje? Normalmente os museus fecham às segundas.” “Vou confirmar e te ligo logo”. Esfreguei os olhos, me espreguicei, levantei, escovei os dentes, lavei o rosto…… “Susi, tá aberto e hoje o preço é especial. Tem 50% de desconto”….. Penteei os cabelos, preparei meu café da manhã, atualizei Facebook, Gmail, Bysuzete …… E assim, em plena segunda-feira, fui à OCA ver a exposição “Esplendores do Vaticano” munida de queridas amigas, roupa de caminhada (quem sabe dê tempo para uma caminhada no parque) e uma pseudo-vontade de apreciar arte sacra. A exposição tem seus encantos, mas pra quem já esteve no Vaticano, os pontos altos são a réplica da Pietá e a forma da mão do já beatificado Papa João Paulo II, onde se pode encaixar a própria mão e sentir o contorno e o tamanho da mão direita de um dos papas mais queridos e carismáticos de todos os tempos. A história retratada pela arte  me presenteou com um diálogo entre o Papa Julio II e o artista Michelangelo, responsável por algumas das obras primas pintadas e esculpidas para a Igreja Católica, no Vaticano. “Quando ficará pronto?” quis saber o Papa. Humilde, Michelangelo respondeu “Quando eu conseguir”. Espero ser tão sábia quando me pressionarem com prazos no futuro. Quando eu conseguir parece a resposta perfeita.