Ele e eu … esquentando as turbinas 1

” …
  • Achei que você deveria saber …
  • Agora eu já sei. Podemos conversar à noite?

Martina desligou sem um OK, um até de noite então. Sempre estressada e esquentada. O que ela queria que eu fizesse? Não bastam meus próprios problemas, os dos meus pacientes, e em pleno horário de atendimento, ela liga pras eternas reclamações do irmão caçula.

  • Olá ,Rogério.
  • Desculpa o atraso. Peguei trânsito. Por isso me atrasei.

Sei. Pelo menos uma desculpa comum e razoável – meio inviável se pensar onde ele mora e trabalha e onde fica meu consultório. Pior são as mortes, as doenças, as reuniões pra justificar atrasos e faltas. O mais comum seria falar de esquecimentos e resistências. Aliás, Freud diria que não existem esquecimentos. Prefiro acreditar que existem esquecimentos, sim. Nossa vida inconsciente passou a ser a grande responsável e vilã de muitos dos nossos infortúnios e irresponsabilidades. Há quem diga que nossa vida consciente equivalha a uma tampinha de Coca-Cola num imenso oceano. Um pouco exagerado, na minha opinião. Acredito sim em esquecimentos agendados, desorganização e má administração do tempo, naquela dúvida irracional entre ir para a sessão e falar/sofrer/chorar/se irritar/pegar o carro/estacionar/subir escadas/preguiça ou ficar em casa … Mas, enfim. Rogério chegou e me ajudou a protelar mais uma conversa difícil e irritante com Martina: minha filha carente, exigente e perfeccionista….”