Cuidados

O céu de hoje esteve esplendoroso

azul rajado de nuvens, cruzado de fragatas e gaivotas.

O mar verde, puro deleite. A água, geladézima.

Os turistas, me pareceu, pouco se importaram:

Aventuraram-se.

Na areia, um cemitério de peixes e o alvoroço de corvos e abutres. A festa.

Caminho focada no coração.

Compulsões e perdições. Decepções.

O coração sofre. Tenho de me cuidar.

Cardumes de piranhas se alvoroçam.

Mãe e filha

“Filha sai da água, depois você reclama que está morta de cansaço. Água cansa.

Precisa de alguma coisa? Estou aí pra te ajudar. É só mandar.

Filha, come alguma coisa. Você comeu pouco. Vai passar fome durante a viagem. O ônibus só para em Sombrio durante 20 minutos. Tem de ser rápida e anota o número do ônibus, pra não pegar o errado.

Você não precisa fazer xixi? Vai enquanto o ônibus não chega. Vou ficar olhando suas coisas. Se precisar ir durante a viagem, o banheiro fica bem na entrada.

Você lembrou de trazer um casaquinho? Olha que no ônibus o ar condicionado é forte. Se precisar, fala com o motorista. Não vai ficar doente.

Minha filha, esta roupa não fica bem em você. Sou sua mãe e tenho de lhe dizer. Você não é gorda, mas aquela calça com a blusa de bolinhas te deixou mais fofa. Possante. Você não é gorda. Você puxou o corpo da sua tia Ivone. Usa aquele seu vestido longo que te deixa bem.

Vai descansar. Deixa que eu arrumo a cozinha. Aproveita as férias. Comprei doce de amendoim que você adora. E balas também. Quer que eu faça torta de carne moída? Encomendei “pizzinhas” da Rejane. Não vai passar fome aqui em casa.

Vou tocar piano pra você. “Sobre as ondas” ou “Danúbio Azul”? Seu avô adorava o “Adeste Fidelis”.

Minha filha, faça como você quiser: quer ir dormir em Lajeado? Vai. Quer dormir aqui em casa? Dorme. Eu penso que cada um deve fazer as coisas do jeito que gosta. Sei que você adora ficar em casa sozinha. Eu também gosto. Não precisa se preocupar comigo. Eu estou bem. Muito bem pra minha idade. Porque quando eu ficar velha, aí sim, vou precisar de ajuda.”

Porque mãe é tudo igual.

Esta é a minha, aos 80 me tratando como se eu tivesse 5 anos.

Bom saber que tem alguém que ama a gente assim: sem medidas.

Quando eu crescer quero ser igualzinha a ela.

Bali Belly

Fernanda bem que avisou e orientou. Deveríamos tomar uma medicação específica 7 dias antes de viajar para Bali e mantê-la durante nossa permanência na ilha. Também deveríamos escovar os dentes usando água mineral ao invés de água da torneira. Para beber, impreterivelmente, água mineral. E todo o cuidado com a procedência do gelo (sempre confirmar se é “good ice”, gelo bom), frutas e verduras. Se possível evitar, ou, comer apenas o que é servido no hotel. Em termos de alimentação, poderia me definir como uma avestruz: como de tudo, misturado, doce, salgado, apimentado e não lembro a última vez em que tive problemas estomacais ou intestinais. Com meu marido, a história é exatamente o oposto. Assim, quando ele amanheceu no penúltimo dia de Bali com uma leve diarreia, fiquei de cabelo em pé. Óbvio, que ele não seguiu as recomendações da filha – com exceção de beber exclusivamente água mineral – alegando que era frescura da nossa filha, mimada pelos padrões australianos, de tomar medicação preventiva e escovar os dentes com água mineral. Pois bem. O primeiro dia de Bali Belly – ou Bali Bug – como é chamada a doença (uma espécie de intoxicação alimentar comum em turistas desacostumados com a comida e a água de Bali)) foi relativamente tranquila. O corte da alimentação, a ingestão de muito líquido e um soro caseiro pareciam ser suficientes. Depois do dia de aventura, a noite foi reservada para um último drink e um inesquecível e leve jantar. Mas, o que estava reservado para nós foi um revertério total no quadro tranquilo de Bali Belly. Em menos de 15 minutos, a dor de estômago atingiu a categoria 9, a febre passou dos 40 graus e a diarreia ficou líquida e fétida (haja perfume francês pra desodorizar o quarto e o banheiro). O que fazer? Chamar um médico, uma ambulância? Busquei ajuda no hotel. Nada. Meu inglês enferrujado e o péssimo inglês indonésio não chegaram a um acordo. O jeito foi ter paciência e usar os recursos de que dispunha: um Gastro Stop australiano, meu Biofenac DI para cólicas menstruais e um Dorflex. Faltava o remédio pra febre. Enquanto isso, toalhas úmidas esfriavam o corpo em brasa febril do meu marido. Depois de medicado, o quadro foi gradativamente melhorando. Felizmente, não precisamos procurar atendimento médico, mas o Bali Belly se estendeu ainda por uns 7 dias. Passado o susto, meu marido comentou que ficou com medo de ser trazido de volta ao Brasil num coco amarelo (tradição balinesa de acomodar os restos mortais cremados dos entes queridos e depois jogá-los ao mar ou rio), e prometeu seguir à risca qualquer sugestão de cuidados preventivos quando o assunto for viagens aos países em desenvolvimento (principalmente os países asiáticos). Quanto a mim, o susto serviu para incrementar ainda mais os medicamentos de viagem: além dos remédios básicos que costumo carregar (Biofenac DI pra cólicas, Dorflex pra dores e Neosaldina pra enxaqueca) a ideia é acrescentar um remédio pra febre tipo Tylenol, um para dores estomacais, tipo Buscopan e um para diarréias, tipo o Gastro Stop australiano. Outra dica é usar as garrafinhas de água e fazer no próprio hotel o soro caseiro com açúcar e sal: fácil, rápido e prático. Pesquisei na internet as quantidades de cada um e foi o companheiro no retorno ao Brasil. E óbvio, ser cuidadoso com a comida e com a água consumida.