RESPIRA FUNDO, SE ACALMA E PENSA

Meu amigo Santana pediu que eu postasse uma situação inusitada ou algo de interessante em seu blog. Lembrei da minha viagem ao Canadá, muitos anos atrás, e que começou de um jeito muito atrapalhado.

Promessa é dívida.
Depois de muito pensar, resolvi pagá-la relatando um momento muito significativo em minha vida, que ficarei feliz em compartilhar com toda esta galera “up” que frequenta seu blog, igualmente “up”.
Costumo dizer que para viajar, além de vontade, disposição e curiosidade, basta cash (de qualquer espécie) e documentos. Apenas isso. E com apenas isso toda e qualquer viagem acontece. Roupa, maquiagem, mala, livros, calçados, qualquer coisa se compra. Já perdi – e/ou já perderam – e esqueci tudo que se pode imaginar como imprescindível numa viagem. Possivelmente, alguns dirão, que podemos viajar até sem cash e sem documento. Não duvido. Outros desistem de viajar por não dominarem o inglês ou o idioma do país visitado. Descobri que a língua apenas complica. Nada mais que isso. Ela não impossibilita a viagem.
Porque a língua mãe de todo o planeta é a linguagem internacional dos gestos. E todos nascemos habilitados e aptos a usá-la.
Anos atrás, logo após o 11 de setembro em NY, tive que renovar meu visto americano. Íamos – meu marido e eu – a um congresso em Montreal, no Canadá, e planejamos passar uma semana nos USA. Uma semana antes da viagem, implantaram a entrevista obrigatória no consulado americano. E é obvio, que minha viagem e minha entrevista entraram em conflito de agenda e acabei viajando sem o visto. Por sorte nossa passagem era São Paulo – Toronto. Só fiquei sabendo da falta do meu visto americano a bordo do avião, a 14.000(?) metros de altitude. Meu marido se assegurou de que eu não tivesse outra opção. Ou melhor, até tinha: poderia nem desembarcar e retornar imediatamente ao Brasil. Consciente do meu inglês precário e rudimentar – apesar das aulas no Yazigi – decidi que no máximo eu passaria uma semana dormindo no hotel. O que não era uma má ideia, pois na época eu trabalhava em torno de dez horas diárias e estava exausta.
Em Toronto desembarquei sozinha com minha mala, meus documentos, meu inglês capenga e dinheiro suficiente para me hospedar no melhor 5 estrelas da cidade, por uma semana.
Frente a situações assim costumo dizer: RESPIRA FUNDO, SE ACALMA E PENSA. Não adiantava matar meu marido, nem gritar nem chorar.
Troquei algum dinheiro e fui de táxi ao centro de Toronto, próximo à embaixada americana. Já estava anoitecendo e precisava me sentir segura num espaço fechado. Chegando ao hotel e já desencavando meu inglês enferrujado e horroroso, me instalei confortavelmente na cama King Size onde assisti a várias partidas de tênis. Precisava baixar a adrenalina de toda aquela tensão e a bolinha hipnotizante do tênis, indo e vindo, simplesmente me acalmou. Adormeci com a batida seca da bolinha no saibro da quadra de tênis.
Quando amanheceu fui conhecer – e apenas isso – a embaixada americana e a brasileira e confirmei que ficaria sem o visto americano e com uma semana inteira de Toronto.
RESPIRA FUNDO, SE ACALMA E PENSA.
E mergulhei em Toronto. Saí do Sheraton e me hospedei no Hotel Bond. Um três estrelas muito bem localizado. Estudei o guia e os mapas da cidade, comprei um dicionário inglês&espanhol, afinei o ouvido, exercitei a memória e o maxilar, andei de ônibus, metrô, bonde, barco e a pé. Conheci Toronto de todas as maneiras que se pode conhecer uma cidade. Sozinha. E mal e mal falando inglês.
Gosto deste momento da minha vida, pois no final daquela semana, tive a certeza de que posso ir a qualquer lugar e me comunicar com qualquer pessoa de qualquer parte do planeta.
Gostaria de falar mais e melhor o inglês. Mas já desisti. Cheguei à conclusão de que conhecimento pouco usado, atrofia. Me viro com o que sei e o pouco que sei não me impede de viajar. Além das palavrinhas mágicas “Sorry”, “Escuse-me”, “Please”, “Thank You” duas frases são fundamentais: Can you speak slowly?” e “How much is this?”.
Do resto, a linguagem internacional dos gestos dá conta. Me comuniquei em chinês, japonês, italiano, espanhol, alemão, sueco …….. sem palavras. Compreendi e fui compreendida. E isto é o que importa.
Próximo destino? Qualquer lugar do planeta.

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